quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Uma pequena mágoa de infância

No consultório da dentista, depois de uma bronca pelas cáries, a menina se perguntou: "O que será que dá cáries?" Não era uma pergunta para a dentista, para se precaver do problema, muito menos uma ironia, afinal, era tão novinha. "O que será que dá cáries", como até hoje se pergunta "o que será que causa o câncer, como surgiu a humanidade, exise vida após a morte?".
A dentista, a mãe e uma platéia imaginária riram da menina e alguém respondeu: "Ora, comida!". Como se fosse óbvio e pode até parecer hoje, depois que a menina já viu tanto comercial de creme dental e já conheceu outras tantos médicos de dentes.
Surpresa e ofendida, ela aceitou a resposta sem mais questionamentos. Hoje é capaz de entender um pouco mais sobre o mundo adulto e como seria difícil alguém ali reconhecer talvez seu primeiro momento de interesse pelas ciências e por todos os outros mistérios. Porque ela não se surpreende mais de se perguntar tanto sobre tanta coisa, de buscar muitas respostas, de achar algumas e encontrar cada vez mais perguntas. Ela sabe que é bom viver assim.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Olhar não tira pedaço

Apesar do mundo inteiro achar que sabe as regras e os caminhos, acho tesão uma coisa muito doida. Porque você é preparada pra ficar excitada com um homem forte saindo da água, com beijos no pescoço ao som de música romântica etc, mas, de repente, se pega observando com interesse incomum as mãos de um cara que não te despertou nada de início ou fascinada pelo espreguiçar daquele amigo que você se acostumou a achar normal todos os dias.
Pensei isso essa semana quando um cidadão viu um pedaço da minha calcinha e exclamou em tom safado: "Humnm, sua calcinha é salmon."
Gente, não era. Minha calcinha era bege. Sim, aquela cor sem graça que, se estiver em calcinhas, é condenada por uma grande parte do público masculino. Já ouvi falar que é quase um método anticoncepcional. Mas é que esse cidadão, apesar de sua vida certinha de compromissos e atenções, sonha em passear aqui em casa e me fazer companhia numa noite solitária. Acostumada com seus comentários atrevidos, apenas ri e arrumei a saia. Apesar de nunca ter dado meu endereço pra ele, um dia vou lhe agradecer pelas altas doses de ânimo na minha auto estima. Fazer sucesso até de calcinha bege é mesmo muito bom.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Bad Hair Day


Eu sou contra.
Contra gente magra.
Porque eu estou grilada de estar gorda e fazer regime é um sacrifício imenso, caso você (magro) queira saber.
E também sou contra gente do cabelo liso e naturalmente bonito.
Meu cabelo, por ele mesmo, é sem graça e despenteado.
Tem pichains na frente.
Se eu não fizer nada, fico sempre com cara de desarrumada.
"Ah, mas você pode fazer luzes, escova, chapinha... não custa nada".
Custa sim.
Eu tenho um sono mortal de manhã, sou enrolada, preguiçosa, cabelo escovado suja rápido e me dá coceira.
E luzes sai mais de R$ 200 nos salões razoáveis.
Então, hoje, eu sou contra gente magra e do cabelo facilmente bonito.
É o meu dia de revolta, dá licença.
Caso você seja magro e com cabelão lindo, você vai entender que eu tenho inveja.
E você também tem direito de ser conta o que quiser.
Talvez você quisesse ser inteligente, por exemplo.
Ser branca.
Ser negra.
Ter pernas mais grossas.
É claro que você pode ser feliz sem isso.
Eu também posso.
Mas hoje eu não estou feliz com meu corpo e nem com meu cabelo.
E comecei um regime, vou voltar a malhar, vou tentar resolver meus problemas capilares.
Mas eu tenho todo o direito de não gostar de ter esses problemas.
Não é que eu não tenha outros, tenho, inclusive, vários outros.
Uma coleção repleta de problemas chatos e difíceis, de toda ordem que você possa imaginar.
Físicos, psicológicos, sociais, sentimentais, astrais... Problemas à vontade!
Mas são todos meus e vou levando como posso.
Peço ajuda ou não, empurro com a barriga ou resolvo, enfim, me viro.
É bem provável que eu evolua com o tempo e me torne uma pessoa melhor. Mais madura, mais segura.
Quem sabe, até lá, eu consiga ter uma relação mais saudável com meu corpo e cabelo.
Talvez eu esqueça as cobranças externas e consiga chegar ao nirvana de agradar só a mim mesma e mais ninguém.
E passear livre pelas casas de massa exibindo orgulhosa minha massa de fios desordenados na cabeça.
Mas, até lá, vou sofrer ao desistir do sorvete, do cheddar e de gastar uma fortuna nos salões.

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Nem cinza nem surdo

E se, de repente, desse vontade e a gente seguisse? Se tirássemos as travas, a prudência? Como seria nossa tarde pulando em piscinas limpas, desarrumando camas, contando piadas sujas e antecipando o happy hour? E se o proibido for melhor? E a moral for só uma chatice que te manter infeliz?
Não dá uma vontade de usar mais o corpo que o teclado, de falar mais alto, de sambar nos corredores do supermercado?! Alguém aí já guardou o divertido no bolso e, na hora da festa, não sabia mais onde estava? Algo assim já aconteceu com você? Comigo já.
Sushi, sexo, dança maluca, 12h de sono, uma temporada inteira do seriado favorito, um bom livro, uma nova paixão. O que você quer agora, nesse exato momento? O que poderia acender seus olhos e deixar seu corpo e alma deleitados de prazer? O que tem gosto de vida plena? O que dá crise de riso? O que arrepia?
Eu sei, eu sei, não dá pra fazer tudo agora. Tem o emprego, o trabalho pra entregar, aquela conta pra pagar, não se pode magoar tanta gente, não tenho saúde, não tenho idade nem coragem. Mas, por um só minuto, não se esqueça do que é estar vivo.

domingo, 24 de outubro de 2010

Assaltos

Do hálito quente ao cansaço, lembro de cada detalhe. Só me esqueço das ausências, dos pecados, do não recomendado, de tudo mais que é chato. Daquela noite em sussurros inocentes até que o peso do seu corpo me tirasse o ar. Aquela sua constatação cínica de quem já sabia que tinha ganhado o jogo, quase fico com vergonha se não fosse o riso fácil que suas piadas bobas me provocam. Aquele primeiro beijo tinha eletricidade para acender uma cidade na noite de Natal, com luzes e luzes piscando até que todos se fartem.
O teu suor manchou meus lençóis amarelados pelo tempo, lavou meus preconceitos tolos, inundou minha alma e é por isso que, mesmo hoje, ainda sei o que é suspirar plena. A sua presença é luz guardada que invade meu céu nublado, tira minha memória pra dançar e incita meu dedo a discar seu número em um fim de tarde qualquer.
Achei engraçado seu ar de abusado desprezando meus mil agradecimentos por aquele favor. Eu sei, você sabe, não é educação e polidez que construíram nossa admiração e respeito um pelo outro, nem é isso que faz você sempre voltar.

domingo, 10 de outubro de 2010

SAI DAQUI, ANGÚSTIA!

Eu te reconheço, mas não te aceito
Sei das tuas garras, que ainda me pegam, mas não sufocam como antes
Agora eu tenho pulmões mais fortes pra gritar, pra te expulsar ou, na falta de forças
pra ficar quieta e esperar que você seja delicada e vá embora deixando meu dia menos esquisito
Porque eu cuido de plantas e cultivo alegrias amenas
Como aproveitar o domingo na piscina semi suja, mas usável
Vencendo o desafio da lâmpaga queimada
Hesitando em ligar para os amigos porque eu não quero que você se meta nas minhas conversas
Então, cai fora!
Se manda
Meu domingo é de paz e eu confio em coisas infinitas
Sei que noite me alivia, pare de atrapalhar meu pôr do sol
A falta dele não deveria abrir espaço pra você
Esse vazio não pertence a ninguém e pode ficar tomando um ar por ora
Coração fresco, cabelos bem cuidados, contas pagas
Talvez não ainda nesse feriado, mas um dia

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Pequeno stress da vida inteira

Agatha. É tão difícil assim? Á Gê Á Tê Agá Á. Não dá mesmo pra entender? Não tem Y, não tem LL, W, Ü... Só tem um Hzinho ali, singelo. Um simples H. Ainda quero ser neurocientista e provar que a letra H trava o cérebro das pessoas. Não coloquem em seus filhos nomes com essa letra. Se bem que Hommer fica legal...
Eu convivo com as confusões com o meu nome desde que me deram essa alcunha, e até hoje me irrito. Sim, porque quando eu falo e a pessoa não entende, ok. Devo pronunciar meu nome errado. Mas quando eu mando um email e a pessoa responde para: "Aghata", isso me tira do sério. Meu email tem meu nome e sobrenome, e eu ainda assino no final. Mesmo assim, a pessoa responde com o GH. Por que? Será que TH é brega? Aí o pessoal acha mais glamouroso conversar com a Aghata que comigo, Agatha? 
A folha de ponto do meu trabalho vem todo mês para a Aghata assinar. Se ela levar falta, espero que não descontem do meu salário.

Eu gosto do meu nome. É bonito, é forte, e é simples, não? Três síladas, todas com a letra A. E tem um H ali só pra fazer um charme, pra não ficar "a gata" (que seria pretensioso, né?). Mas esse stress com o nome me faz bem. De tanto errarem o meu, eu tento ser mais atenciosa com o nome dos outros, solidária com todos que não se chamam Patrícia, Pedro, Fernanda, Luís etc. Presto atenção no n drobrado de Yasminn, no FH de Rafhael, no Z do Luiz e em todas as criatividades que nossos pais tiveram no cartório. Um dia o universo reconhecerá o meu esforço e abrirá a mente dos seres humanos para Agatha, com TH.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

De tarde

Eu demoro. Pra decidir o que fazer, pra esquecer uma mágoa, um amor, um aborrecimento. Demoro até chegar a uma certeza, mas, quando chego, sei que ela é bem minha. Aprendi a comer rápido demais porque era criticada na infância, mas agora não vou deixar me apressarem mais do que já me atropelaram. Inspira, expira, espera. Calma aí que eu ainda não sei. Vou vendo, depois... Porque eu já tenho que dar conta de muita coisa muito rápido. Pisar no acelerador, fazer maquiagem no carro, torcer para que o sinal feche pra ouvir minha música favorita de novo. Aceito o que acontece, pode passar por cima, vai lá. Daqui a pouco eu vou saber o que aconteceu e me resolvo, não se preocupe. Porque sentimentos não obedecem prazos, horário comercial, dias úteis, demilitações. Aparecem e desaparecem no seu próprio tempo encantado, que vai de milésimos à toda a eternidade. E são sempre esses senhores que vão me governar.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Melissinhas

Vivemos esperando um sinal, um aviso ou uma sensação forte de que estamos prontas para ter filhos. O meu sinal foi um email: Melissa lança Minimelissas. Sim, uma coleção infantil. Ok, universo, estou pronta para ter filhas. Pode mandar o pai e um pouco mais de dinheiro que eu aceito. Agora, se for pra ter um filho, menino homem, aí tenho que pensar mais um pouco. Mas manda o pai que a gente negocia, ok?

Obrigada

domingo, 22 de agosto de 2010

Pulos cegos em abismos

Tenho umas manias chatas. Uma delas é me apaixonar perdidamente antes de qualquer coisa real acontecer. Real digo física, beijar e afins. Muita gente fala que é meio loucura se apaixonar por alguém que eu nem beijei, talvez seja, não sei... Depois da última paixonite crônica, jurei pra mim que ia ser mais prática e nunca mais ia querer casar e ter filhos com alguém que só me dá oi. Anda funcionando (mais ou menos, mas anda).

Acho um tanto canalha pensar apenas em "pegar" um cara, mas foi necessário. Porque tenho tendências românticas. Gosto de escrever bilhete, sonhar acordada, suspirar de amores e imaginar como serão nossos filhos. Todo mundo gosta, não é? E não teria nada de errado se eu não fizesse isso sozinha, sem esperar pra saber se a outra pessoa está na mesma "vibe". E o resultado de entrar nessa loucura sozinha é sofrer um bocado, me decepcionar, perder tempo e jogar energia fora.

Esses dias identifiquei um momento que seria o começo de mais uma idealização. Foi um olhar com música que me emocionou até os ossos (não sei se seus ossos se emocionam, os meus sim). Até agora, confesso, estou meio bamba. Não sou lá tão forte, um segundo ataque desses seria fatal. Mas guardei esse primeiro como um momento bonito e não dei a ele a obrigação de se repetir e evoluir até onde eu gostaria. Me pareceu mais saudável.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Retrovisor

Por certo que há muitas maneiras de se ganhar o dia. Mas o que me aconteceu ontem é uma superação no quesito originalidade. Vamos aos fatos:
 
Local: Marginal Botafogo, Goiânia, Goiás (engarrafada).
Horário: 9h20 a.m (aproximadamente).
Personagens: Eu, um menino de rua e outros motoristas figurantes.
 
Um calor sufocante, o ventilador do carro não me aliviada em nada. Pela secura do ar, sei lá porque o ar-condiconado me dá uma sensação estranha. Então abri a janela do carro, incomoada com o trânsito parado que me atrasava ainda mais para o trabalho. Pouco depois, vejo que vem andando por ali um menino de rua. Minha primeira reação foi medo, quase fechei o vidro do carro. Mas ando me policiando, tentando ser melhor, mais caridosa, mais legal com quem não tem tanta sorte como eu. Então me preparei e esperei ele chegar pedindo moedas pra tia. Ia sim dar uns trocados que não me fariam falta, me convenci. Mas o moleque passou por mim com um sorriso maroto cantando: "Que bonita a sua roupaaaaa...".
 
Para quem não se lembra, é uma musiquinha do Chaves (amigo Chaves, Chaves...). Pra quem é amiga do Luiz Felipe, como eu, é imposível escutar essa música sem lembrar dele e rir. E o menino seguiu cantando, passando pelos carros e batucando na lataria de um ônibus. Depois sentou a sombra, não pedindo nada pra ninguém. Um motorista até buzinou estendendo a mão, mas ele nem ligou. O sinal abriu e eu passei por ele, sorrindo e fazendo sinal de legal, em agradecimento à alegria primeira do meu dia. Eu, que ia dar umas moedas, ganhei um presente bem mais valioso que alguns centavos. Obrigada, menino!
 
 
"Que bonita a sua roupa
Que roupinha mucho louca
Nela é tudo remendado
Não vale nenhum centavo
Mas agrada a quem olhar."

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Ah, habib!

Estávamos em família (grande e confusa) comendo crepe em Pirenópolis. Aí minha prima Roberta comenta:
_ É assim mesmo, a gente senta numa mesa separada, mas a conta vai só para a mesa das mães. Daqui a alguns anos seremos nós, que vamos sentar na mesa dos mais velhos e nossos filhos vão mandar a conta pra gente.
_E ainda vou reclamar que os meninos sáo folgados!

Então ali eu vi, mais uma vez, a magnitude que minha família tem pra mim. Ter filhos, viajar para Pirenópolis e reclamar da conta me parece um plano de vida bom demais, desde que eu continue com os que adoro chamar de meus.

*
Depois de morrer de rir de umas batatas photoshopadas na tv e ainda contar a história, um amigo de longa data e infinita estima comenta:
_A Agatha e o Pedro se divertem até com comercial de supermercadom é incrível.
Também acho.

*
Depois de meses ensaiando pra levar uma saia à costureira, eu levantei mais cedo e costurei eu mesma o pequeno furo. Ser capaz de consertar uma roupa, mesmo que meio desajeitada, é uma das pequenas infinitas coisas que se somam nos dias bons e me fazem ter muito orgulho de mim mesma.


*
Depois de meses ensaiando, dia 13 está chegando e não me aguento de nervosismo. Não sei se vai dar certo, vou tremer, vou suar, vou implorar pra me ajudarem, vou tentar ajudar quem precisar e, se Deus quiser, vou conseguir dançar direitinho e fazer o tal cambret que me assombra (e vou postar fotos magníficas dessa vez, prometo). Me desejem sorte sorte sorte sorte sorte, toda a sorte do mundo. Não sei se acredito nessa de "merda" ou "break a leg", prefiro um belo "boa sorte" mesmo.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Momento Pânico Total, A Casa Caiu, Corre Mermão, Run to the Hills

Esse Cotidiano nunca foi dado a histórias de terror, mas essa aconteceu de verdade, e não foi com a amiga da cunhada da vizinha da minha prima, não, não! Foi comigo. Se você tem nervos fracos, leia com cuidado.

Foi assim:
Em um surto de responsabilidade, fui renovar minha carteira de motorista (oito meses depois de vencida, mas isso não vem ao caso). Por sorte, um dos postos de atendimento no Detran fica num shopping bacana da cidade. Beleza, lá vou eu pagar por estacionamento sem reclamar, coisa muito rara. Deixei meu carro bonitinho lá na garagem e fui resolver minha vida. Passadas 3 ou 4 horas, volto para o carro. Mas quem disse que consigo entrar no possante?
Não, queridos, não estava batido, arranhado, ninguém fechou minha vaga. Tinha uma barata lá. Dentro. Sim, dentro do meu carro, passeando pelo vidro do lado da motorista.
Se eu fosse milionária, ou só rica mesmo, teria deixado ele lá e comprado outro. Mas não, eu ainda precisava do carro e tinha que enfrentar o problema. O medo de paralisava, o suor descia pelo meu rosto. Olhei para os lados e ninguém pra me ajudar num momento tão difícil.
Uma coragem mágica se abateu sobre mim e consegui abrir a porta, convidando a intrusa (ou seria residente???) a se retirar pacificamente. Fiquei uma meia hora rondando o carro, sem conseguir me aproximar. Uma dondoca gentil que passava até se compadeceu e perguntou eu tinha batido, eu falei que não, que tinha uma barata ali. Ela, é claro, fez cara de pânico e correu pra longe.
Depois de um tempo, a barata estava na lateral da porta, pensei em ser cruel e fechar com força a porta, mas no pânico de qualquer movimento fazer ela se aproximar de mim só consegui fechar a porta e, por Deus, o bicho caiu no chão.

Mas aí veio a paranóia. Tem outras lá dentro? Elas moram no meu carro? Tem um ninho lá dentro??? É, por pouco eu não chamei a polícia. Era uma invasão, podia ser uma máfia, o que podiam estar tramando contra mim? Admito que sou relapsa com a higiene do carro, que deixo papel, bolacha, roupas suadas, sapatos e etc jogados lá. Tá bom, eu sei, eu mereci. Mas ainda precisava voltar pra casa naquele carro. Depois de um tempo esperando a líder do movimento aparecer e fazer exigências pra devolver meu carro, nada aconteceu. Entrei no carro, fui pra casa e, graças a Deus, nada saiu da obscuridade pra me assustar. No outro ia, levei o carro pro lavajato imaginando o pior. Mas, aparentemente, aquela do shopping era uma barata solitária, que aproveitou minha carona pra invadir um espaço da elite e tirar onda de inseto burguês.

Em agradecimento por ter sobrevivido sem maiores traumas, prometi a mim mesma que lavaria o carro sempre. Não toda semana, porque é caro, viu? Mas juro que, todo mês eu faço esse investimento pela minha segurança sanitária e metal.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Drops

Atualizando rapidinho porque tô com sono.

* Pessoa anônima, nem sei se é menino ou menina, homem ou mulher e/ou etc e afins pra agradecer sua visita tão atenciosa. Li e reli seu comentário, prestei bastante atenção. Sobre "Dos Ares", doeria mesmo cortar, e mesmo pq ele é um dos únicos textos com grande sucesso de público e crítica por aqui ;)

* Meu aniversário foi ótimo. Ganhei presentes e um monte de beijos, abraços, palavras, pensamentos e afagos de todos os tipos (nem todos, mas vá lá). Muito obrigada a quem me viu, me ligou, escreveu ou só pensou em mim com carinho, mesmo de longe.

* Cambret, meu povo. Preciso aprender a fazer um cambret. É um movimento de dança (de várias danças, não só da árabe) onde vc dobra a coluna pra trás e vai com a cabeça pra baixo, braços quase lá no chão. Não precisa entender. É só, por favor, mandar energias positivas do cambret pra mim. Prometo postar uma foto assim que conseguir. Obrigada!


domingo, 4 de julho de 2010

Blablablá

Eu não sou coerente, não sou esperta. Já perdi as contas de quantas vezes cometi o mesmo erro e é muito provável que cometa de novo daqui a pouco. Porque meu cérebro parece dividido em setores independentes e a inteligência não circula livremente, fica presa nos setores inúteis enquanto outros parecem afundar na lama da burrice. E eu não estou de tpm, só pra esclarecer.
Sou otimista só enquanto vai tudo bem, aí começa a dar errado e eu desanimo, desespero, igual nossa seleção no segundo tempo com a Holanda (se bem que eles brigaram para dar certo muito mais que eu). Antes eu era uma boa amiga, agora tenho tanta preguiça das minhas proprias confusões que fico sem graça de não ter nada de novo pra contar, não ter glórias pra compartilhar, tenho vergonha do que ando fazendo com minha própria vida (que pode até se resumir a nada).
Eu tenho um suposto talento nas mãos e não tenho idéia do que fazer com ele, já que meus planos fracassaram e eu deixei vários bloqueios pequenos virarem Muros de Berlim, dividindo a alegria de tentar da atitude derrotada dos que acham que nada vai adiantar.
Eu pensei que pudesse, mas não consegui até agora abrir mão dos meus vícios, que tanto me prejudicam e confortam. É como se me cortasse pra passar o tempo, pra não ver tão de perto o que sai pelos olhos e não pelos poros.
E confesso que estou apavorada de fazer outro aniversário, como esse julho chegou tão rápido? E estou celebrando o que? Todas as chances que perdi? Tudo que sonhei e tão fácil desisti de conquistar? Sim, posso agradecer por várias e várias bençãos que recebi, pelo menos ingrata e não sou. Mas me falta aquela sensação que esse número da minha idade é só o tempo que levei pra chegar até aqui, o lugar onde estou, que não deveria ser tão distante de onde deve ser o meu lugar.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Um ato de amor

Meu sonho é ter uma fazenda pra adotar cães e gatos que não deveriam ter sido abandonados. Enquanto não tenho, estou divulgando essas fotos de cães disponíveis pra adoção em Goiânia. São todos castrados, vacinados e vermifugados. Lá no Centro de Zoonozes tem outros bichinhos precisando de um lar também.

Não compre animais, adote!

Mais informações: 3524 3130

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Elétron

Meu coração parou de bater e ficou suspenso naquele choque surdo das notícias bombásticas. Mas foi só pra voltar a bater num ritmo mais compassado e forte, até meio chato, mas agora certo. Por que meu coração é criança pequena, ansiosa pelo Natal ainda no meio do ano. Coração que vê estrela e acha que tem fogueira, não sabe admirar luz fria e distante (que também é bonita, filha, aprende).
Tem que saber usar a força de forma contínua, pra que ela seja construtora e não destruidora. E se for pra destruir, que sejam os vícios, os muros altos, os medos e a cegueira. E deixar ir esse passado pesado, as mágoas encardidas, o que não foi nem mais será.
Deixa fluir tudo, mesmo que o choro ainda não tenha acabado, mesmo que a frustração ainda impere, transforma tudo em raiva e grita, bate bem forte até sangrar os punhos. Aí a vitória vai ser sua e não mais da sorte. Aí você vai poder, sim, ser um tantinho esnobe e muito orgulhosa de ter lutado por você. E ser seu prórpio prêmio, sua própria luz, cidadã reconhecida do planeta alfa que pisa macio sobre a Terra.

domingo, 6 de junho de 2010

Das tarefas e dos presentes

Depilar a perna, comprar filtro solar, decidir sobre o plano do celular. Pagar contas, entrar no vermelho. Decidir sobre o caminho espiritual. Abrir a cabeça na terapia. Manter o joelho saudável e a bunda pra cima com musculação. Correr pra emagrecer e ter fôlego. Levar Belinha pra tomar banho. Arrumar um jeito de ganhar mais dinheiro. Animar de estudar pra concurso. Alimentar um amor platônico, uma amizade colorida ou sexo por sexo. Aprender a rolar no chão equilibrando uma espada na cabeça. Pagar meus pecados. Criar intimidade com música árabe. Esquecer de ligar pra amiga com problemas. Ser abandonada a qualquer momento. Hormônios, problemas, angústias e tantas outras coisas que me enlouquecem. E você, que achava que minha vida era fácil.

Esquentar no sol num dia frio. Ter momentos de iluminação com livros, conversas, sonhos ou só de olhar pras nuvens. Ganhar atenção inesperada. Amar e ser amada. Esperar com calma o que ainda vem. Fazer viagens fantásticas. Descobrir a melhor sorveteria do mundo. Ser desejada de calça jeans, de biquíni ou com nada. Deixar saudades. Ter talento de verdade. Morar na mesma cidade que uma das melhores bandas do mundo. Rir muito de muita coisa. Nunca ficar doente (e desconsiderar os "de vez em quando"). Nascer numa família fantástica. Ser filha da minha mãe. Ser irmã do Pedro. Olhar pras árvores da imensa janela do trabalho.  Ter ido num show do Muse. Ter carro.  Amigos bobos, cults, divertidos, inteligentes, sumidos, chatos, estranhos, mas todos verdadeiros e incríveis. Conhecer a Europa e o universo paralelo do interior do Piauí. Ter esperança. Belinha. Músculos facilmente alongáveis. Ter uma fã número 1. E um fã número 1 . Ver a lua nascer da varanda. Estar em paz, mesmo que nem sempre. E eu, que pude ver o quanto minha vida é maravilhosa.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Segunda-feira

É a vida normal, mas são quatro piscinas maravilhosas, de água azul, e nenhuma criança nadando. Ninguém batendo os pés na água e refrescando um pouco os dedos do dia puxado, do sapato apertado, da falta de prazeres simples. Tanta gente ainda de ressaca dirigindo seus carros, acendendo os faróis, comprando pão pro lanche, que já não se faz mais jantar em família. E é só um dia normal, uma segunda-feira com contas e compromissos e o peso da semana inteira pela frente. O final de semana está muito longe, aqueles dias que todo mundo é obrigado a vestir uma roupa melhor e aproveitar horrores, cair na farra, tropeçar de bêbado e pegar a maior quantidade de saliva dos outros possível. Os dias programados pra máxima diversão.

É engraçado na sexta e sábado, mulheres enfurnadas em salões queimando os cabelos e sangrando as cutículas, ansiosas para não caberem em vestidos de luxo e esperando na esquina por homens que não fazem a gentileza de dar a volta no quarteirão pra buscar as namoradas que se sacrificam em saltos pontiagudos. É, não é engraçado.

Aí eu vejo aqui do 11º andar as piscinas, o fim de tarde, o céu e sei lá, fico com inveja das pombas, aquelas acusadas de sujarem a cidade e espalharem doenças. Mas são elas que tem acesso aos terraços dos prédios. Pra que pagamos tão caro se os terraços não são visitáveis? Eu queria ser pomba nessas horas. Comer pipoca nos parques e voar pelo planejamento desfuncional da cidade. Queria finais de semana mais longos ou dias da semana menos chatos.

E não é que estou reclamando. Grande parte da minha ocupação de hoje fui eu mesma que escolhi, faz parte das buscas pessoais para ser um ser humano mais completo ou, simplesmente, uma mulher mais feliz. Mas quis o destino que eu morasse num lugar alto, e uma pessoa contemplativa com uma varanda para contemplação vai sempre questionar o vai e vem ali de baixo como se não fizesse parte dele.


(foto tirada agorinha, pra mostrar a vista que estou falando. O céu é assim mesmo, não tem outro truque de edição além de uma boa câmera e uma boa fotógrafa)

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Designo

Se eu pudesse te dar uma coisa, entre as tantas boas que desejo, seria o seu nome. É um presente estranho, já que seus pais pensaram tanto e escolheram como te chamar, e a vida confirmou que seria assim mesmo que as pessoas iam se referir a você. Um nome comum, fácil de pronunciar. Mas tão lindo, tão forte, tão completamente seu que me parece mesmo uma afronta outras pessoas andando por aí com o mesmo nome que você atende. Tanta gente pelo mundo, com outras caras, outras formas, vidas alheias à sua e o mesmo som que te designa. Não, não, isso com certeza não é certo.
Que se chamem Aloízio, Rodolfo, Galopante, Meteoro de Pégasus, Astolfo, Astrogildo. Ou até números, estações do ano, meses do calendário ou gestos, tanta gente que nem por gestos merece ser chamada!
E a junção de letras, as poucas síladas que se transformam em sons e num instante já está ali, uma vibração de cordas que impressioa os ouvidos presentes, que imediatamente a ligam à imagem tão bem formada que só pode ser única: você. 

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Breganight and day

Sempre que você estiver perdida, confusa ou cansada, conte comigo. Eu não posso fazer muito, não tenho poderes especiais. Mas vou te ouvir. Vou tentar encontrar a melhor maneira de te livrar de um problema. E quando você precisar de apoio, eu vou estar aí para concordar com você. Uma blusa nova ou mudar de país, nada é pequeno demais para você dividir comigo. Porque a sua vida é minha vida também, e espero que você continue essa chata irritante e insistente que me força a viver de uma maneira completa e verdadeiramente maravilhosa. Eu amo você atrapalhando meu tédio todos os dias. E amo você, simples assim.

 

(Inspirado em declarações de amor alheias. Em fotos de amor dos outros. Em pequenas invejas de felicidade conjugal. Inspirado no meu cansaço com a solidão, nas tentativas frustradas, em desejos errados, na paciência que eu não escolhi, em tudo que eu preciso fazer antes de atingir um ponto secreto de estar pronta pra sei lá o quê. Inspirado na vida, não é nada pessoal.)

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Vinho quente e conhaque

Você não me quer. Me adora, me respeita, me admira. Mas não me quer.
Você reconhece meu esforço, me chama pra dançar. Gosta do meu cheiro, me acha inteligente.
Mas ainda não me quer.
Adora me ver dançar, me fala baixarias. Me beija, quer me comer.
Faz pequenos serviços, é meu grande amigo. Perdoa meus pecados, me diz boa noite.
E jamais pensaria mal de mim, nunca ofenderia minha dignidade.
Você não bate em mulher. Respeita as diferenças. Até admite seu lado feminino.
Ah, você é tão bom!
Do alto de sua hombridade, você está sempre ali por mim.
Nunca rasgou minhas roupas, nunca pensou em mim no chuveiro.
Posso contar com você pra tudo que eu precisar. Você me ouve, me consola, tenta me entender.
E me traz chocolates, desgraçado, foda-se você e esses malditos chocolates.
Porque você não me quer, simplesmente não me quer!
E odeio todos os seus atos nobres, a sua sinceridade, honestidade, seus impostos em dia
sua cervejinha no domingo
E desprezo seus segredos sujos, suas historinhas de paixões erradas, traições, sofrimentos...
Quanta bobagem!
Porque nada me sangra mais a carne
Nada é mais humilhante, mais cruel
Nada pode pisar tão fundo em mim
Do que o esse fato sólido, claro e límpido
De que você não me quer.

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Feliz Páscoa pra quem vai ganhar o ovo de chocolate que eu queria, mas não fui comprar e nem vou ganhar!

Eu estou tão bonita naquela foto, chega a me dar saudade quando olho. E tem só dois dias que tirei. Eu mesma, rindo pra mim, em mais uma das minhas mil autofotos.
Mas hoje eu não me reconheço ali, assim como não sei quem é a gordinha determinada que corria do Areião semana passada, nem a escritora genial que surgiu no último post.

Meu êxtase de ontem foi um intervalo de uma hora, um pequeno espaço pra ser feliz e viver da maneira que eu gosto, mas não consigo manter. Acho que meu vício é a intensidade. Tudo que me emociona muito, que vai mais fundo, que vibra. Me sinto viva com certos sons, histórias e pessoas. Quando encontro algo ou alguém assim, viro fiel devota, beiro o fanatismo.

Aí o show acaba, as pessoas vão embora, as luzes se acendem e eu estou de volta à vida que eu acho sem graça e todo mundo diz que é minha culpa. Porque tem aquela história de que "você é dono do seu destino", "faça acontecer" e tudo o mais, e deve ser verdade. Assim como é verdadeiro crescer e saber que o mundo não é culpado pelos seus problemas e não adianta ter raiva de tudo só porque você está insatisfeita.

Se a assistência social contasse como habilidades a capacidade de cuidar da própria vida, perseguir sonhos, resolver problemas e realizar objetivos, eu estaria estacionando em vagas especiais e recebendo uma aposentadoria mixa, da época que uma pessoa parecida comigo passou num concurso público. Mas eu tenho mãos, pés, todos os dedos e sentidos perfeitos, ainda bem e Deus me conserve assim, mas nada disso garante um cidadão realmente capaz de contribuir com a sociedade.

Aí uns que me amam me mostram o quanto eu sou livre, quantas possibilidades estão à minha frente e nada me prende. Então é assim que eu descubro que tenho asas, mas não sei voar.

quarta-feira, 10 de março de 2010

Dos ares

Então naquele ano os anjos desceram para dar presentes, pois o mundo (como é conhecido) estava mesmo prestes a acabar. Fui uma das agraciadas, não por beatice, santidade ou sorte, mas por preencher os requisitos. Eles viram que amo o universo e a beleza acima de todas as coisas, e, sendo de alma solitária, conseguiria guardar segredo. Foi me dado o dom de voar. Não por metáforas, nem como os pássaros, que precisam bater as asas num grande esforço. Me foi concedido voar como um vento, como pensamento. E meus limites seriam os mesmos de qualquer humano: o meu corpo. Eu não poderia sair da atmosfera porque lá fora não tem oxigênio, esse combustível que nos alimenta e consome. Também não conseguiria subir muito além das nuvens sem uma roupa apropriada para aguentar o frio, mas isso fui aprendendo aos poucos.

Ao me dar a graça, meu anjo contou que muitos humanos estavam recebendo dádivas, mas eu não poderia conhecê-los ainda. Alguns voariam, outros ficariam invisíveis, seriam mais fortes, leriam pensamentos, controlariam chuvas, encantariam serpentes e uma infinidade de poderes, mas que eles, os anjos, cuidariam para que nunca nos encontrássemos em ação. "Seria muito perigoso, a solidão é o único protetor contra a soberba", me explicou o anjo.


Nos primeiros vôos, planei sobre vegetações rasteiras, porque ainda não tinha coragem. Aos poucos, fui tomando altitude e explorando minha cidade e arredores, sempre nas madrugadas dos dias quentes. Arrumei uma roupa preta com capuz, para não ser vista. Essa era a principal regra: não ser vista voando por ninguém que pudesse estranhar tal fato. As pessoas normais se assustariam e saberiam, depois de descartadas as possibilidades da tecnologia, que eu voando era um sinal do apocalipse.


Quando comecei a ir mais alto e mais longe, achei que minha alma explodiria de encantamento. Como o mundo é belo, como é belo, e como as pessoas não veem? Acompanhei leitos de rios até o mar. Segui para os oceanos. Vi pulos de baleias, descansei em ilhas desertas, assisti a tanto nascer e por do sol que esqueci que o mundo estava acabando, sem nunca enjoar do ir e vir da luz do sol. Por cima da aridez, os desertos são sinfonias de cores e formas. Chorei ao ver pela primeira vez o Jalapão e, com algum esforço, cheguei ao Saara, para mais uma vez minhas lágrimas saírem dos olhos sem caírem no chão. Sentei no topo de pirâmides, fugi de tempestades de areia e voltei pra casa exausta.


Também explorei as maravilhas do mundo moderno. Tudo me dava muito trabalho de disfarces e horas e horas de observação até ninguém estar olhando, mas valeu à pena. Além das 7 da lista oficial, fui mais alto que qualquer turista na Torre Eiffel, Estátua da Liberdade, Big Ben e muitas outras que já não lembro o nome. Do alto, não se lê placas ou guias.


Américas e todos os continentes. As mais belas luzes das cidades. Antártica e Antártida. Prédios gigantes. Dubai. Amazônia. São Paulo, Goiânia, Palmas.. Cataratas do Iguaçu... E seriam longas páginas de memórias.


Depois de um tempo explorando a redondeza desse planeta, a solidão me era tão forte que queria gritar, queria levar alguém no colo, estava morrendo por não compartilhar. Mandei um email para meu anjo (sim, todos os caminhos são válidos), e ele apenas me respondeu com a principal regra em negrito. Passei uns dias sem vencer a gravidade, lutando para não blasfemar meu ente celeste e ver alguma solução. Foi numa noite tediosa que vi Belinha aos meus pés, dormindo, que pude compreender. Ainda de madrugada, a levei bem aquecida para correr nos morros e brincar com vacas que pastavam por lá. E passear com cachorro nunca mais foi apenas uma voltinha no quarteirão.


Entendendo melhor a regra, dancei no ar para loucos incuráveis, crianças, velhos caducos e até ajudei bêbados e drogados a acharem o caminho de volta para casa. Num sonho, meu anjo apenas me pediu cuidado. Eu não tinha o direito de interferir no destino de nenhum deles. Mas ainda pude ser apenas um sonho, alucinação, história fantástica e "eu vi de verdade, mamãe, eu juro que vi uma mulher voando e ela dançou no ar pra mim, e me mandou beijos!" 


Já estou com os ossos desgastados pelas rajadas de vento, com olhos cansados de tanta luz e cor, e agora me resguardo um pouco e fico perto de casa, brincando com nuvens e acompanhando pássaros de vez em quando. Meu corpo envelheu, mas minha alma brilha como diamante ao sol. Saí do Centro-Oeste e comprei uma casinha perto da praia, porque decidi morrer ouvindo o barulho do mar. Sobrevoar as ondas me aliviava as dores da degeneração do corpo e nada como uma maré pra me trazer paz. Tenho hoje uma filha da filha da filha (já não sei a geração) da Belinha, que segue me acompanhando fiel e alegre.


Esses dias, perguntei ao anjo: Mas, e aí, o mundo não vai acabar? Ele apenas sorriu e continuou comendo as laranjas que colhi ontem numa terra não tão distante. O sol estava se pondo de uma maneira mais uma vez estonteante, mas ele não pareceu notar.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Os outros

O astronauta que vê a terra por uma janela da nave. Minha prima magra que nem pensa em se preocupar com as calorias do que come. Alpinistas loucos por lugares muito, muito difíceis de ir (e de voltar). Gente que chuta cachorro. Gente que come cachorro. Minha amiga que nunca foi à caça numa balada porque sempre amou e foi amada de uma maneira natutal e segura. Alguém no poder que acha justo a verba de um açude virar o lago do haras particular. Paulistano que acredita, de verdade, que os nordestinos estragam São Paulo. A pessoa que consegue ouvir o som da banda Dejavú sem se incomodar. A pessoa gostar (meu Deeeeeeeeeeus) de Dejavú. Alguém que viu a banda Dejavú no comecinho e pensou: "Nossa, que ótimo, vou investir neles!". Alguém planejar meticulosamente conquistar e quebrar meu coração.
 
Me sinto tão, tão distante desse povo.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Templos e Castelos

Não tema, minha amada!
As guerras, as pestes, as intrigas são coisas dos homens e sempre serão
A pequenez e a grandeza são humanas na mesma medida, não te assustes com a face crua dos iguais
 
Não temas a solidão, o frio, o escuro
Há luz em ti e sempre haverá
Sei que vês apenas a tocha que carrego, mas, não, te enganas
Esse brilho é tua aura, tua força
Te foram dados pelos deuses mais nobres
Pelos ventos mais puros e por estrelas que te amaram e já não existem mais
 
Reza por mim, bem aventurada
Não pelos monstros e perigos que encontro nesses caminhos tortuosos
Pois tenho peito forte, sou homem
Enfrento todos com a esperança da tua aldeia ser o passo seguinte
Mas reza por mim, toda noite
Porque sou humano, e posso me perder
Posso esquecer do que é puro, do que é divino
E não dosar os vícios, perder a coragem
Por isso, não te acanhes, e usa teu poder pra pedir por mim
sempre por mim
Que estarei pensando em uma vida aos teus pés
 
Não me condenes, querida
Sei que essa distância te rasga o peito
E jamais escolheria te fazer sofrer
Mas um herói precisa ter cicatrizes
Assim como os olhos sofridos te caem tão bem
Perdoe se não estou ao teu lado desde cedo
Mas sou o homem do teu destino
E preciso ter grandeza pra te merecer
 
Guarda-te pra mim, princesa
Não o corpo, que os tempos são outros e a carne precisa sempre de vento e fogo
Não o peito, que paixões e fúrias vão te alimentar a alma
Mas guarda pra mim, querida, essa febre crédula no amor
Guarda pra mim sonhos e histórias
Reserva o juntar das tuas mãos, que é onde devem estar as minhas um dia
Que pouco tarda, logo chega
Me espere, amada, me espere!
 
(Medieval feelings)
(Erros de conjugação e concordância aos montes, mas foi o que me "soou" melhor.) 

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Polaroid

Clarisse é uma menina alegre
Dança, conversa, namora e vive rindo
Teve problemas de saúde, pega ônibus, o pai sumiu
Mas nunca passou pela cabeça dela
Estar errada nesse mundo

Milena sabe de tudo
Das cotações, da novela, do parafuso do pneu do carro
Analisa tudo, mede, compara, condena
Até ouviu uns conselhos, mas ainda não consegue
Relaxar

Sandra é forte
Lutou pra subir na vida, é respeitada, tem status
Levou golpes da vida e nunca se esmoreceu
Mas até hoje não pode
Perdoar

Léia é dona do mundo
Do alto de seus saltos e nariz empinado
O mundo está a seu serviço
Quem está mal é por preguiça de vencer
Jura que sempre vai se dar bem
Nunca pensou em temer

Mara é ponderada
Uns dias bem, noutros deprê
Tomou os remédios indicados
E agora faz acompanhamento regular
Trabalha, paga contas, tem amigos
Ainda quer desaparecer

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Das Horas

Eis que meu coração dispara às 13h14. Mais uma promessa, mais um lampejo da vibração que eu não posso resistir. Mas eis também o meu maior desafio: saber esperar. Se tudo der certo, não é pra agora, não é pra já. Se der errado é nunca, e isso é ainda pior que tudo. Nas horas do dia, só uma me acalma. A de pisar com força no chão, mesmo não podendo. A de contrariar a prudência e forçar o fôlego. Aquele suor denso que me suja, aquele é o meu prêmio. São os males que jogo fora, pra bem longe do meu corpo. É o peso que eu finalmente não quero mais carregar.

E é só depois, cansada, satisfeita e de missão cumprida, que posso olhar ver na vida um compasso paciente e sábio. Sei que tudo tem sua hora, mas eu ainda preciso correr.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Saiu


Mudar requer um esforço sério e constante, mas também há mudanças que eu nem sei que estão acontecendo e, de repente, eu mudei. Num calor alucinante em Goiânia, vesti ontem uma saia que era quase um uniforme. Nem sei quanto tempo fiquei sem usar, talvez uns seis meses. Faltou uma blusa pra combinar, estava mais cheinha, não era apropriada pro novo local de trabalho, enfim... fui deixando de canto. E ontem, apesar da saia servir perfeitamente, de estar calor, de ter blusa, de estar tudo certo, alguma coisa ali já não combinava mais comigo. Não era a moda, não o manequim. Ainda não sei o que é, mas a saia vai pra doação.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Ondina

Eu tinha um monte de coisas pra escrever aqui, mas entrei no mar e Iemanjá ficou com todas as idéias. Me desculpem a ausência, levei a sério o conceito de férias. Não tenho feito um monte de coisas que chamo de minhas, e tem horas de me surpreendo andando de biquini como se briga com espelho não fosse uma coisa desse universo meu.

É uma delícia estar de férias, principalmente de mim mesma. Tenho me permitido mais, preocupado menos, pensado mais, apreciado bem mais. E por que não sou assim sempre? Bem, acho que ter o mar por perto realmente ajuda. Aí vem um plano de morar numa cidade com praia. E ando aproveitando bem muito, bem do jeito que gosto essas férias, pra essa sensação de bem estar e agradecimento à beleza do mundo se apoderar de vez de mim e viajar comigo pro Centro Oeste e pra onde mais eu for.

Pequenas observações sobre Pernambuco:

* Deus quem fez o Bolo de rolo, uma delícia regional;
* As rádios aqui não conseguem tocar duas músicas boas em sequência. As boas estão espalhadas pelas estações em horas bem diferentes, o que te faz procurar outra sintonia a cada 3 minutos e ouvir apenas trechos de músicas bacanas.
* O povo é muito simpático, pelo menos todo mundo que conheci por aqui.
* O sotaque é completamente contagiante. Não faço mais idéia do que é falar goianês. Virei gêmea de voz da minha prima. E tô achando lindo, visse?
* Ah, e esse erro de conjugação acaba ficando bem simpático com esse sotaque. Tu fosse? Voltasse que horas? Já jantasse? Delícia.
* Apesar da malemolência esperada de nordestinos, o povo aqui fala rápido e anda rápido. Tão com pressa, é? Danou-se!