terça-feira, 22 de março de 2011

Luzia e os Dragões de Komodo

É como pegar um texto de alguém que eu conhecia, mas perdi o contato. Achei por acaso esse texto meu, que mandei para mim mesma (faço isso para não perder arquivos, uma fé cega no gmail). Tem quase 5 anos. Mesmo que eu não tenha virado uma grande escritora até agora, posso ver que mudei muito. Acredito que escreva melhor, que tenha mais fé, que veja mais beleza no cotidiano, embora escreva menos e nunca mais tenha criado um título tão legal. Vou aproveitar a descoberta de um email antigo (o novo páginas de papel amareladas) e publicar aqui, com o compromisso ético de não alterar nada, nem os erros de concordância. Vai aí:


---------- Mensagem encaminhada ----------
De: Agatha Couto <agathacouto@gmail.com>
Data: 31 de agosto de 2006 16:45
Assunto: Luzia e os dragões de komodo
Para: agathacouto@gmail.com

Dia novo, emprego velho. No meio da poeira do escritório em reforma, Luzia se sentia mofando. Sentia a poeira das paredes derrubadas como partículas da sua pele se desintegrando. Poderia jurar que seus pés criavam raízes do chão naquele momento. Raízes grossas que perfuravam o chão e atrapalhavam o preguiçoso início de expediente no andar de baixo. Imaginou as raízes surgindo do teto e enroscando nas mesas, cadeiras, ofícios, planilhas, grampeadores e funcionários, que nem se incomodavam com a intromissão. Foi acordava do devaneio pelo "bom dia" gritado do Doutor Lustrosa, seu chefe há dez anos, chefe de toda a empresa há três dias. As paredes derrubadas eram o primeiro sinal dos grandes planos que tinham convencido o Armandinho, herdeiro mimado que não queria trabalhar, a lhe dar a presidência.

Luzia fez cara de desdém, respondeu bom dia mal movendo os lábios e entregou a agenda do dia e recados. O chefe saiu e se trancou no seu escritório, lugar paradisíaco com paredes e ar condicionado. "Selva, selva, selva!", Luzia pensava em fugir, viver com os macacos, caçar, lutar com feras, dormir nas árvores. Mas levantou e foi pegar uma xícara de café e um chocolate para agüentar o dia inteiro que tinha pela frente.


Carpete

Terminamos por aqui
Eu sinto muito
Porque não te quero mais assim, tão pouco
Você me faz bem e me dá conforto
Mas eu preciso de alguém que me incomode
Que me transborde os poros
E me tenha como vício
Ou que não se importe
Pra eu lembrar do que realmente preciso
Pra me mostrar que essa sala com carpete não nos leva ao quarto nem à saída de emergência
Você nem me promete as emoções que mereço
Não há descida ou subida nesse nosso dia morno
E quem foi que derrubou as pontes e fez esse muro de proteção?
Não sei, isso agora nem importa
Porque está tudo tão bem que só me resta uma bomba
Um rompimento brutal e doloroso
Pra libertar nossas asas, arrancar a grama e liberar nosso grito mais proffundo
Essa máscara envelhecida de gente civilizada não convence mais
Somos animais no cio

sexta-feira, 11 de março de 2011

Os transtornos passam, os benefícios ficam.

Quer uma dica valiosa sobre reforma? Não faça. É só isso. Não faça reformas, nunca. A não ser que você tenha uma vida muito vazia, tenha muito dinheiro e queira algo para sofrer. Siga meu conselho: não faça reforma. Sua casa é velha? More nela o máximo que puder. Quando as paredes não aguentarem mais, imploda a casa, faça um estacionamento e fique rico.

Seu apartamento é velho? Espere uma alta do mercado, venda e compre um novo, mesmo que seja menor. Vai valer a pena. Você pode achar um exagero e o meu exemplo não é dos mais dramáticos. Pois vamos pensar em alguém com uma vida fantástica: Jennifer Aniston, a eterna Rachel de Friends.


Voltemos um pouco no passado de Jennifer: bonita, milionária, famosa, dona do cabelo mais bonito de Hollywood (não esse da foto), um corpo maravilhoso, 1 milhão de dólares a cada episódio da série. Aí ela se apaixona e casa com quem? Quem? Brad Pitt. Meu Deus! Brad Pitt! Com dinheiro, fama e beleza, o que poderia atrapalhar esse cenário dos sonhos?

Reforma. Não uma, mas várias. Brad, antes de ter tantos filhos para cuidar e uma esposa mais sexy symbol ainda pra se preocupar, tinha uma mania insuportável de reformar suas muitas mansões. Então, imagine Jen (apelido carinhoso para resumir) chegando em casa depois de um dia exaustivo de gravações, comerciais e bajulações. O mestre de obras vem e fala:

_Dona Jennifer, tem que comprar mais três caixas do revestimento de ouro do banheiro do terceiro andar.
Ela vira e fala que isso é problema de Brad, mas ele está em algum país distante gravando o próximo sucesso de bilhereria. Ou, caso tenha alguém pra cuidar disso (o que é provável), Jen não podia andar de calcinha pela casa, porque sempre tinha um seu Zé quebrando uma parede, ou a coitada não podia nem se afeiçoar às mansões, já que elas viviam sendo montadas e remontadas pela fúria reformista de Brad. A mania de reformas, dizem os fofoqueiros de Hollywood, desgastou a relação dos dois muito antes de surgir o furação Jolie na vida de Brad.

Por isso, amigos, muito cuidado com reformas. Todos aqueles clichês são verdade. O orçamento estoura, o prazo final é sempre adiado e, no final, você considera seriamente morar no reboco, sem pia nem chuveiro elétrico, só para acabar logo com a obra. 

Sobre a minha reforma, perdi totalmente a esperança de que um dia termine. Belinha, a cachorrinha que eu costumava criar, está hospedada com um cuidador há mais de um mês. A dívida passa de trezentos reais e eu não tenho como pagar. Se ela valesse isso, eu vendia. Mas como não vale, vou ter que pagar e resgatar a bichinha antes que o cuidador me processe por calote e abandono de incapaz. Talvez meu apartamento fique pronto antes da decisão judicial.