segunda-feira, 17 de maio de 2010

Segunda-feira

É a vida normal, mas são quatro piscinas maravilhosas, de água azul, e nenhuma criança nadando. Ninguém batendo os pés na água e refrescando um pouco os dedos do dia puxado, do sapato apertado, da falta de prazeres simples. Tanta gente ainda de ressaca dirigindo seus carros, acendendo os faróis, comprando pão pro lanche, que já não se faz mais jantar em família. E é só um dia normal, uma segunda-feira com contas e compromissos e o peso da semana inteira pela frente. O final de semana está muito longe, aqueles dias que todo mundo é obrigado a vestir uma roupa melhor e aproveitar horrores, cair na farra, tropeçar de bêbado e pegar a maior quantidade de saliva dos outros possível. Os dias programados pra máxima diversão.

É engraçado na sexta e sábado, mulheres enfurnadas em salões queimando os cabelos e sangrando as cutículas, ansiosas para não caberem em vestidos de luxo e esperando na esquina por homens que não fazem a gentileza de dar a volta no quarteirão pra buscar as namoradas que se sacrificam em saltos pontiagudos. É, não é engraçado.

Aí eu vejo aqui do 11º andar as piscinas, o fim de tarde, o céu e sei lá, fico com inveja das pombas, aquelas acusadas de sujarem a cidade e espalharem doenças. Mas são elas que tem acesso aos terraços dos prédios. Pra que pagamos tão caro se os terraços não são visitáveis? Eu queria ser pomba nessas horas. Comer pipoca nos parques e voar pelo planejamento desfuncional da cidade. Queria finais de semana mais longos ou dias da semana menos chatos.

E não é que estou reclamando. Grande parte da minha ocupação de hoje fui eu mesma que escolhi, faz parte das buscas pessoais para ser um ser humano mais completo ou, simplesmente, uma mulher mais feliz. Mas quis o destino que eu morasse num lugar alto, e uma pessoa contemplativa com uma varanda para contemplação vai sempre questionar o vai e vem ali de baixo como se não fizesse parte dele.


(foto tirada agorinha, pra mostrar a vista que estou falando. O céu é assim mesmo, não tem outro truque de edição além de uma boa câmera e uma boa fotógrafa)

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Designo

Se eu pudesse te dar uma coisa, entre as tantas boas que desejo, seria o seu nome. É um presente estranho, já que seus pais pensaram tanto e escolheram como te chamar, e a vida confirmou que seria assim mesmo que as pessoas iam se referir a você. Um nome comum, fácil de pronunciar. Mas tão lindo, tão forte, tão completamente seu que me parece mesmo uma afronta outras pessoas andando por aí com o mesmo nome que você atende. Tanta gente pelo mundo, com outras caras, outras formas, vidas alheias à sua e o mesmo som que te designa. Não, não, isso com certeza não é certo.
Que se chamem Aloízio, Rodolfo, Galopante, Meteoro de Pégasus, Astolfo, Astrogildo. Ou até números, estações do ano, meses do calendário ou gestos, tanta gente que nem por gestos merece ser chamada!
E a junção de letras, as poucas síladas que se transformam em sons e num instante já está ali, uma vibração de cordas que impressioa os ouvidos presentes, que imediatamente a ligam à imagem tão bem formada que só pode ser única: você. 

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Breganight and day

Sempre que você estiver perdida, confusa ou cansada, conte comigo. Eu não posso fazer muito, não tenho poderes especiais. Mas vou te ouvir. Vou tentar encontrar a melhor maneira de te livrar de um problema. E quando você precisar de apoio, eu vou estar aí para concordar com você. Uma blusa nova ou mudar de país, nada é pequeno demais para você dividir comigo. Porque a sua vida é minha vida também, e espero que você continue essa chata irritante e insistente que me força a viver de uma maneira completa e verdadeiramente maravilhosa. Eu amo você atrapalhando meu tédio todos os dias. E amo você, simples assim.

 

(Inspirado em declarações de amor alheias. Em fotos de amor dos outros. Em pequenas invejas de felicidade conjugal. Inspirado no meu cansaço com a solidão, nas tentativas frustradas, em desejos errados, na paciência que eu não escolhi, em tudo que eu preciso fazer antes de atingir um ponto secreto de estar pronta pra sei lá o quê. Inspirado na vida, não é nada pessoal.)