sexta-feira, 27 de junho de 2008

Narinha

Nunca a chamei pelo apelido. Não sei o que ela gostava de comer, o que a fazia rir, que frase mais falava. Mas a conhecia e, mesmo de longe, gostava dela. Nada mais clichê do que a morte. Nada mais natural que pensar em todos os clichês em um velório.
A que horas foi? Ela sofreu? Ela soube? O que importa agora? Ela morreu. Era muito querida, muito amada, uma profissional competente, uma mulher apaixonada, mas morreu. E eu quis falar pra família e para o namorado que sentia muito, que imagino que ela vá mesmo para um lugar melhor, que ela deve estar em paz agora, que vai ficar tudo bem, mas não falei nada. Pra que? Fui lá e senti muito, fiquei quietinha, foi o que consegui.
Pensei em tanta coisa pra escrever, mas saí do velório mais abalada do que imaginava. A efemeridade da vida, as coisas que nos matam e nos fazem viver, a correria do dia a dia, a valorização do trabalho em prol da vida afetiva, a mulher contemporânea... Tudo fica pra outro dia. Hoje eu só quero mesmo que a Nara descanse em paz.

Um comentário:

Anônimo disse...

Se consolo virtual serve, receba o meu.