quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Purificação

Não nos procure mais, estamos mortos
Eu, a mulher sonhadora pela qual você se apaixonou um dia
O filho que tentamos, mas nunca foi fecundado
A casa no campo muito maior que nossas contas bancária poderiam suportar
Já morremos, acabamos
Sobrou de mim uma senhora pragmática cuidando de muitas vidas, menos da sua
Sobraram fotos de piadas que você esqueceu e eu já não acho graça
Ficaram os amigos em comum, divididos entre a velha triste e o jovem senhor animado
Ficou um terreno estéril de onde nada mais virá
Não venha nos dizer adeus
Eu, o apartamento no centro da cidade, o cachorro manco, os vinhos guardados... envelhecemos todos esperando uma grande celebração, um dia ao sol, uma alegria plena e um lugar nos seus sonhos
Talvez estejamos mesmo melhor sem você
Mais dignos, com um olhar endurecido menos desconfortável que os ares de pedinte de outrora
Vá, viva o que lhe resta do seu corpo encarquilhado queimado de sol
Gaste dinheiro com novas flores
Corra o que lhe permite o doutor
E, por favor, se esqueça de tudo até o fim
Até que o tempo apague as mais formais recordações de que um dia estivemos juntos
e cometemos o ato ridículo de sonhar em sermos felizes