De repente é assim: ao invés da vista feia das garagens eu vejo o mundo da minha janela. Morar no 2º andar nunca me impediu de ter ótimos momentos contemplativos. Por isso eu queria fumar, pra justificar o ato de ficar parada vendo o mundo seguir seu rumo. Mas levei em conta o amor aos meus pulmões e assumi a cara de boba. Tô só olhando, e daí?!
É como de faltasse ar no meu quarto e a janela me aliviasse a sensação. Não dá pra ver o sol se pondo, mas posso ver o céu mudando de cor. Posso ver os pássaros e suas coreografias. Posso alcançar com a vista lugares que tenho preguiça de ir a pé. Tudo tão simples. O mundo parece tão organizado assim... De todos os poderes dos super heróis, eu quero poder voar. Mas aí terei que ficar invisível pra não causar espanto e inveja. Talvez me concedam os dois poderes, eles devem ser pessoas bem legais.
Hoje, uma visão me trouxe de volta dos meus devaneios: uma moça em uma janela distante. Não consegui identificar mais detalhes que o tom claro de sua blusa, não sei se era menina ou mulher. Mas vi que ela tinha passado da cortina pra olhar a vista. E estava ali, olhando o tempo como eu. Ela ficou pouco, mas sua presença me foi imensamente valiosa. Entre tantas janelas, entre o céu que mudava, entre o vento a me fazer carinho no rosto, foi aquela menina que quebrou minha solidão. Não estou nem nunca estarei sozinha nesse mundo. Muito obrigada!